segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Matei Charles M.

30- UM CRIME PERFEITO

Já dizia o grande Rubem Fonseca que é muito simples você matar alguém e não ser descoberto: basta não ter motivos para fazê-lo. Lógico, né?
Pois foi assim que aconteceu com Charles M. Gente boa, foi meu vizinho no antigo prédio em que morei. Daqueles que quando eu ouvia uma música mais alta e tocava o interfone, era ele dizendo que não conhecia aquela versão de Bolero de Ravel, se eu podia colocar de novo ou copiar o CD para ele. Me mudei, passamos algum tempo sem nos ver, a cidade é grande.
Perto do Natal, fui em um hospital, onde um grande amigo meu era o cirurgião-chefe das emergências. Pois lá, vejo, uma maca com o nome do meu ex-vizinho, Charles M. Não era um nome tão comum assim. Perguntei ao amigo o que tinha acontecido. Foi um acidente de carro, a caminho de São Paulo e o cara estava todo arrebentado. Tinha sido encaminhado para a UTI. As informações batiam. A idade, os parentes no interior de São Paulo....acidentes acontecem. Fui ver o resultado do meu exame com meu amigo médico e chega a notícia: o Charles M. havia falecido.
Portador da notícia em primeira mão, liguei para uma amiga em comum e contei-lhe o ocorrido. Consternação geral. Notícia ruim se espalha logo. Passado um tempinho eis que essa amiga me liga, dizendo que tinha acabado de falar com o Charles M. Desconfiei. Ok, que ela era espírita, mas não sabia que as comunicações entre-mundos estavam tão evoluídas.
Mas, não. Assim como eu, o Charles M. foi ao hospital para um simples exame, ia tirar um Raio-X. Enquanto estava na maca, com um papel escrito o seu nome, apareceu o tal acidentado. Lógico, ele pulou da maca e a cedeu ao camarada todo estrupiado. Só não tiraram o papel com o seu nome. Assim, na falta de outra informação, aquele infeliz passou a ser identificado no hospital como sendo o Charles M. Que faleceu, mas não era ele. Confuso, né?
Um dia na mesa do Beirute, eis que chega perto de mim um sujeito, acompanhado do filho. Olhei e reconheci o amigo. Ele olha para o filho e fala: -"Tá vendo, filho? Foi esse cara que me matou". Um minuto de silêncio e constrangimento geral. Depois, nós 3 caímos na gargalhada. "Cícero, traz mais 3 chopps".

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