quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Nonada

20-O SERTÃO ESTÁ EM TODA PARTE

Devo ao "Visconde de Sabugosa" minha paixão pelo Grande Sertão: Veredas. Seu nome era Renato (de significado renascido), foi meu professor de literatura no colégio e era um apaixonado pelo Grande Sertão. Tanto que deu aulas na região descrita pelo livro durante anos só para poder percorrer os lugares que Rosa descrevia.
Ele tinha o costume de "contar os enredos" dos livros atribuindo aos colegas da sala os personagens. "Esta nossa amiga aqui era apaixonada pelo moço loiro, aqui representado pelo fulano (outro colega da turma)". Claro que, para evitar reclamações dos pais dos alunos, os personagens "malditos", ele sempre os atribuia a mim. Assim fui prostituta, gigolô, bandido...e tudo que não prestava. Eramos amigos, em resumo.
Li o Grande Sertão na adolescência e me impactou muito. Percebi intuitivamente que ele tinha a ver com o Tao te King. "Ao se entender o significado de uma pedra, pode-se compreender o mundo". Ou seja, "o todo" está na "menor parte". Mire e veja.
Muitos anos depois descobri um autor, Francis Utéza, que pesquisou durante 15 anos para escrever "JGR: A Metafísica do Grande Sertão". Ali, ele mostrava que Guimarães Rosa, em um texto aparentemente camuflado em um romance regional, falava das grandes leis universais, com influências do Taoísmo, do Zen-Budismo, do Tarot,  simbolismo maçônico e, principalmente, da alquimia. Doutrinas e tradições que Rosa demonstrava conhecer e sobre as quais tinha livros em sua biblioteca pessoal. A trajetória do personagem Riobaldo seria o relato de alguém que alcançou a iluminação, ou o Nirvana, como dizem os budistas. Um guia para os que buscarem seguir seus caminhos estreitos, ou veredas. "Assim que: tosou-se, floreou-se! Ahã. Por isso dito, é que a ida para o Céu é demorada."
Fiz algumas palestras e escrevi a respeito disso. Até que um dia, voltando de Belo Horizonte, exatamente em Andrequicé, que faz parte hoje do chamado "Circuito Guimarães Rosa", vejo uma paisagem exatamente como as descritas no livro: "Lhe falo do Sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas -e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção". Claro, tive que registrar a foto com o celular. E de fazer minhas as palavras do Mestre. Aprendi isso com o Visconde de Sabugosa.

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